Foi um grande motivo de orgulho ver nosso herói nacional estrelando jogos como Super Monaco GP II, nos consoles da SEGA, fruto também da admiração nipônica ao grande piloto.
De lá pra cá, pintou também na capa de jogos britânicos e estadunidenses, abrasileirando-se apenas através de hack roms substituíndo Nigel Mansell por Senna.

Agora, um jogo com Senna é, de fato, nosso.
Lançado hoje (20) pelo estúdio gaúcho Aquiris, Senna Sempre foi anunciado como uma expansão de Horizon Chase prometendo a inclusão de carros F1 para seguir sua icônica carreira.
Aqui não preciso relatar os motivos para qualquer jogador que preze por bons jogos já possuir o jogo base em seu console ou plataforma preferida. Nele, a nostalgia é resgatada ao se basear em jogos como OutRun, Lotus Turbo Challenge e Top Gear – de bônus, trazendo de volta o idolatrado compositor deste último: Barry Leitch.
Sabe todos aqueles bordões que aparecem em comunidades de jogadores de meia idade, frequentemente bradando coisas como “gráficos não importam”, “muita historinha e pouca jogatina”, “só queria apertar e jogar”, “não se fazem mais jogos pra jogar lado a lado com amigos”?
Horizon Chase junta todas essas reclamações e te entrega – “toma! É isso que você quer?” – e, sim, Horizon Chase é tudo que queríamos, e um pouco mais. Já Senna Sempre, é um pouco a menos, e tudo bem.
Afinal, o que Senna Sempre oferece?
Com a proposta de reviver os passos do nosso icônico piloto através de uma nova campanha, há um modo carreira (para 1 jogador) passando por suas diferentes equipes, com menções há feitos, dificuldades, proezas e curiosidades de sua carreira (de 1984 a 1991).
O conteúdo textual que acompanha os desafios, e breve intervalos entre uma etapa e outra, ajudam a contextualizar a trajetória do nosso tricampeão em uma espécie de museu jogável.

Quanto a jogatina em si, não espere um jogo com a sensação de Fórmula 1. Ainda é Horizon Chase, em toda sua pegada de jogo Arcade, mantendo sua dinâmica essencial de acelerar e ultrapassar.
Pouco das mecânicas do jogo base foram alteradas, sendo mais notável a possibilidade de visão em primeira pessoa, onde é possível contemplar o cockpit e ter um gostinho mínimo de um Simulador.
Nota-se uma opção de design em manter o jogo mais fluído, apenas com 3 voltas, sem entrada em boxes, prezando pela casualidade esperada em Horizon Chase: um jogo para sentar na poltrona, relaxar, jogar e se divertir.
Há três configurações possíveis em cada carro pilotável; um com maior controle de curvas, outro com maior velocidade/aceleração e outro com maior economia de combustível. Este último acaba sendo completamente dispensável depois que o jogador descobre que os combustíveis coletáveis na pista se encontram pouco antes da linha de partida, enfileirados.
No lado oposto há um nitro adicional que possivelmente está ali para beneficiar o jogador que se prive de coletar combustível – passando assim uma sensação análoga à recompensa de evitar os boxes para se manter à frente. No entanto, é facilmente possível, com qualquer configuração de carro, obter o nitro e um pouco de combustível em uma única volta. Desse modo, os boxes de abastecimento que eram parte de Top Gear (seu antecessor espiritual) fazem muita falta para o jogador que espera ter uma experiência mais próxima de corridas de F1.

A opção pelo design Arcade também sacrificou alguns elementos triviais à uma corrida de Fórmula 1, que seriam facilmente implementáveis para garantir o mínimo da sensação de estar na pele do Senna. O jogador não é devidamente punido por colisões laterais e há apenas uma ligeira perda em velocidade quando há colisões traseiras, tal como no jogo base.
A chuva na pista carrega apenas um valor estético para reconsagrar o atributo de “Rei da Chuva” ao nosso piloto, sem qualquer adição notável nas mecânicas que afetam a dificuldade ou desempenho da corrida.
Para progredir pelos estágios de cada um dos 5 capítulos, apenas é necessário chegar em quinto lugar – sendo amigável para pessoas de todas as idades ou qualquer grau de experiência. Para quem gosta de mais desafios, há os objetivos nomeados “façanhas do Senna” que consistem em desafiar o jogador a fazer coisas como coletar todas as moedas espalhadas pela pista, terminar em determinada colocação ou condicioná-lo no uso de nitro e coletas de combustível. Realizações minimamente baseadas nas façanhas reais de Ayrton Senna e que não agregam ou recompensam o jogador, a não ser por uma conquista adicional.

Outro exemplo da baixa fidelidade à carreira de Senna, ingame, ocorre no Capítulo 4 do jogo, quando o segmento do jogo dedicado a retratar a rivalidade entre Senna e *Prost falha ao trazer esta disputa acirrada na corrida. Uma IA mais agressiva, propensa a alternar ultrapassagens, teria feito a diferença.
* Evidentemente, nomes de pilotos e equipes são representados de forma genérica para não ferir direitos.
Uma sensação positiva que experienciei, sendo proposital ou não, foi a dificuldade regressiva no jogo. Talvez por pilotar carros de equipes distintas, os primeiros capítulos oferecem maior dificuldade para realizar as façanhas do Senna, enquanto os capítulos finais se mostram mais fáceis. Assim, foi possível ter uma sensação gradativa de superar dificuldades e se tornar o lendário piloto que Senna foi, fazendo jus ao subtítulo que acompanha cada capítulo: de seu debut, passando por sua ascensão, até seu merecido prestígio.
Outra sensação positiva se deu através do encerramento do jogo em um clima good vibes, sem qualquer menção ao trágico acidente em 94. Uma cutscene final no característico gráfico low poly aquece o coração e propiciam lágrimas de quem relembra momentos torcendo por nosso eterno herói nacional.
E não é só isso…
Há também o modo Campeonato Mundial, para até 4 jogadores, onde é possível escolher entre 18 Equipes diferentes, em 27 corridas, passando por 3 categorias distintas, agora encarnando um piloto sob próprio nome ou apelido. Neste modo, o jogador deve somar pontos para se manter entre o TOP 3 e poder avançar até a categoria Lenda – que é quando a expansão oferece seu desafio de maior dificuldade.

Prós
- Sensação nostálgica é mantida
- Capricho em detalhes estéticos como capacetes, carros e frases típicas de Senna
- Trilha musical adicional composta por Barry Leitch
- Modo carreira faz jus ao legado de Senna
Sendo, também, um pró e tanto o fato do Instituto Ayrton Senna e a Aquiris destinarem parte dos lucros do jogo ao projeto social que se dedica a oferecer educação de qualidade para jovens e crianças, sem fins lucrativos.
Contras
- Ausência de boxes e circuitos com mais voltas
- Mecânicas inalteradas se distanciam da experiência em F1
- “Façanhas do Senna” são desinteressantes e não recompensam o jogador
- Ausência de câmbio manual, ainda faz falta
Conclusão
Embora esta adição ao jogo possa deixar um pequeno gosto amargo em quem esperava mais, sobretudo na sensação de pilotar um carro de F1, ela é obrigatória. Seja para você que gosta de jogos clássicos, você que é fã de automobilismo, é um Sennamaníaco, ou você que torce pelo desenvolvimento da nossa indústria nacional de jogos eletrônicos.
É notável o minucioso carinho e respeito da Aquiris, tanto pelos fãs quanto em memória de Senna, que jamais seria alcançado por um estúdio que não fosse brasileiro.
De todo aquele nostálgico senso patriótico que tínhamos ao torcer por nosso ídolo, nos resta a torcida para que este jogo siga triunfando como um dos mais divertidos jogos de corrida de todos os tempos – agora com Senna, sempre.
Tanto o jogo base quanto a DLC estão disponíveis para para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch, PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC via Nuuvem, Epic Games Store, e Steam, assim como dispositivos iOS e Android.

O Clube do Video Game agradece a assessoria de Jesús Fabre que, gentilmente, nos cedeu o código de Senna Sempre para review.