A Konami anunciou esta semana uma mudança radical para o futuro da série Pro Evolution Soccer (PES). Agora conhecida somente como eFootball — sigla que já havia incorporado na versão anterior —, ela vai passar a ser totalmente free to play e terá uma nova engine compartilhada por PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One/Xbox Series, PC, Android e iOS, que coma mudança também vão ganhar cross-play entre todas elas.
A intenção da empresa é oferecer um pacote básico que vai se transformar e adaptar conforme novas temporadas do futebol real se desenrolam. Os jogadores não vão precisar pagar para ter a experiência base de PES, mas podem ter que abrir a carteira para destravar certos modos de jogo ou itens cosméticos (imagino que uniformes alternativos de clubes entram nesse pacote).
Segundo o produtor Seitaro Kimura explicou à IGN dos Estados Unidos, a intenção é transformar eFootblal em uma plataforma que será atualizada constantemente. Com isso, os jogadores não vão mais precisar comprar todo ano “o mesmo jogo” para se manter atualizados, o que deve botar um fim às antigas discussões baseadas na ideia de que “nada mudou, mas o preço é cheio”.
Por que mudar PES pode ser bom?
Ao fazer essa mudança, a Konami parece ter finalmente atendido aos comentários de muitos críticos — e até mesmo fãs — de que, em essência, o futebol não é um esporte que muda a cada ano. Claro, há transferências nos times, mudanças de elencos e espaços para ajustes de gameplay, mas séries como PES e FIFA já mostraram que essa evolução, especialmente a do aspecto jogo, podem ser sutis e demorar a trazer efeitos notáveis.
Assim, especialmente para o jogador casual, faz mais sentido manter uma base consistente e fácil de atualizar, garantindo que todos os interessados tenham acesso a ela. Fortnite, nada menos que o jogo mais popular da atualidade, mostrou que isso não só pode funcionar, como não há motivos para temer mais as disparidades entre plataformas caseiras e dispositivos mobile — se o ponto de partida é bom o suficiente, a experiência é prazerosa no geral.
Obviamente, há temores quanto à maneira que a Konami vai monetizar a nova empreitada: se for agressiva demais, ela pode fazer com que aqueles acostumados ao formato anterior se sintam “roubados” de coisas que mereciam. No entanto, eu particularmente não me incomodaria se existir somente a opção de pagar um preço mais baixo para destravar o modo carreira, que me interessa, e deixar de lado outras opções que nunca usei muito — mas que poderiam ser aproveitadas por outras pessoas com um valor de entrada mais baixo.
E temos que lembrar que, no mercado atual, há tempos a venda de um jogo por preço cheio deixou de significar a presença de microtransações agressivas. O próprio rival FIFA já mostrou que isso é a parte central de seus lucros e que poderia viver muito bem sem cobrar o ticket de entrada aos consumidores — a EA só não faz isso porque o valor inicial não tem se mostrado uma barreira de entrada.
No caso de eFootball (que eu continuarei chamando de PES durante alguns anos), não dá para dizer o mesmo. A série da Konami está há anos amargando um segundo lugar sustentado pela parte mais ativa da comunidade, e experimentos como PES Mobile mostraram que, tirando a barreira de entrada, ela consegue fazer com que muito mais gente se interesse por ao menos testar sua experiência — o que pode (e já conseguiu) resultar em muitos fãs novos.
Nada é assim tão fácil
Ao mesmo tempo em que a transformação de eFootball em um jogo como serviço parece um passo lógico na evolução da franquia, a Konami ainda tem que enfrentar algumas barreiras para que sua visão traga retorno. A primeira delas é vencer a resistência de quem se acostumou com o formato clássico e vê nessa transformação somente uma aproximação da franquia com microtransações agressivas e com uma inevitável perda de qualidade.
No entanto, acredito que o principal desafio da companhia é algo que não é necessariamente inédito à série. Para ser bem-sucedida nesse formato, desenvolvedores necessariamente precisam trazer atualizações e recursos novos em ritmo constante, e para isso depende tanto de apoio da comunidade quanto de suporte financeiro — área em que a Konami já provou não ser tão generosa.
Se PES sobreviveu durante muito tempo na base de “respiradores”, isso se deve muito às decisões da companhia japonesa de cortar ao máximo seus investimentos em jogos para console. Caso ela permaneça com a mesma filosofia, aí sim que eFootball corre risco de se tornar o “início do fim” da série, como muitos críticos já acreditam.
Até o momento, o que está certo é que eFootball será uma grande mudança para a série, cujos resultados ainda são desconhecidos. O que sabemos até o momento é que a experiência base terá 9 clubes, e que novos modos de jogo vão ser adicionados após o lançamento — preços e calendário de atualizações ainda não foram divulgados.
Ao apostar em um formato radicalmente novo para sua série, a Konami pode tanto revitalizá-la — e forçar o rival FIFA a sair de sua zona de conforto — quanto alienar de vez o público que se mantém fiel a ela. E você, acredita em qual caminho? Na sobrevivência de um jogo como serviço ou no fim definitivo de uma série importante, mas que há tempos tem dificuldade em agradar o público mais casual?