Não é todo dia que nos deparamos com o port de um jogo lançado há mais de 10 anos para a sétima, e agora antepassada, geração de consoles.
El Shaddai: Ascension of the Metatron foi originalmente lançado para PlayStation 3 e Xbox 360 em 2011, sendo desenvolvido e publicado pela Ignition Games, enquanto o port de PC que é objeto desta análise foi feito pela crim Co., Ltd.
Com lançamento na Steam marcado para 2 de Setembro de 2021, o jogo será comercializado pelo preço localizado de R$ 75,49 e conta com desconto de 19% (R$ 61,14) válido até 8 de Setembro de 2021.
Com isso em mente, não seria justo fazer uma análise anacrônica que não leva em consideração o contexto da indústria no período de seu lançamento original. Pois bem..
O que El Shaddai: Ascension of the Metatron oferece?
Trata-se de um hack n slash com câmera fixa em terceira pessoa que, em determinadas ocasiões, se alterna para um side scroller de plataformas.
A oferta principal é proporcionar batalhas simples e curtas, visuais artisticamente esbeltos e uma história épica com toques de narrativa bíblica. Isto porque seu protagonista é baseado em uma das figuras mais enigmáticas do antigo testamento: Enoque.
O filho de Caim chegou a protagonizar escritos apócrifos que narram experiências no Céu depois de um suposto arrebatamento, então, por que não protagonizar um jogo de vídeo game?
Assim, ele aparece em El Shaddai: Ascension of the Metatron como um humano (branco, loiro e de olhos azuis) e que, por algum motivo, veste calça jeans e uma peculiar armadura divina. Esta tal armadura faz parte de uma mecânica interessante no game que, inicialmente desprovido de huds, serve como um medidor de vida para o personagem: à medida que ele sofre dano, peças da armadura se quebram até que Enoque a perde por completo e “morre”.
“Morre” entre aspas, porque sempre é possível revivê-lo pressionando repetidamente os botões do controle em um pequeno espaço de tempo. Assim, sempre é possível recomeçar rapidamente após ser derrotado em batalhas. Sendo que, mortes subsequentes exigirão maior frequência de apertos de botões em espaços de tempos cada vez menores.
O processo de se reviver pode ser aliviado com um modo easy ou intensificado com o modo hard ou o extra que são liberados após o termino do game, que pode tornar algo em torno de 7 horas “se você for bom“. E a duração do game não é nenhum spoiler, já que o narrador da história de Enoque, Lucifel, quebra a quarta parede em determinado diálogo para avisar o tempo necessário para finalizar o jogo.
Aliás, os diálogos do jogo são frequentes e frustrantes. É impossível navegar por alguns momentos pelos belos e diversos cenários sem ser sonoramente interrompido por diálogos que não somam à narrativa – que também não é lá grandes coisas.
Com licenças poéticas de lado, El Shaddai: Ascension of the Metatron é sobre um sujeito em busca de d̶e̶r̶r̶o̶t̶a̶r̶ purificar anjos caídos que se alojaram em uma torre. Toda essa jornada passa por cenários abstratos que são verdadeiras exposições artísticas exuberantes. Nota-se um primor na direção de arte, mesmo em um pobre level design, que é visualmente recompensante após monótonos combates e diálogos dispensáveis.
Seus personagens pouco carismáticos não justificam a quebra do silêncio necessário para abstrair o apelo visual da obra. Uma experiência análoga a caminhar por um extenso museu repleto de obras de arte onde um guia importuno lhe acompanha o tempo todo e não para de falar, não deixando-o apreciar a beleza à sua volta.
Sobre o sistema de batalha, dá para entender que a proposta do jogo foi mantê-la simples: você basicamente ataca com um botão, pula com outro botão e defende com um terceiro, conseguindo se esquivar ao combinar dois botões de acordo com sua arma. São três armas disponíveis que variam principalmente em alcance, contundência e capacidade defensiva/evasiva. A forma de alterná-las é obtendo através de inimigos em combate ou através de orbs coloridos que surgem pelo cenário.
Não há sistema de progressão ou desbloqueio de habilidades, todos recursos são inevitavelmente adquiridos conforme o jogador avança, sendo constantemente interrompido por mensagens que informam o jogador sobre suas novas habilidades. Soma-se isto às constantes interrupções por cutscenes, diálogos e combates repetitivos contra pouquíssimas variações de inimigos.
A dinâmica e o fluxo do jogo são um completo caos. Embora seja esteticamente agradável contemplar formas geométricas, cores exuberantes, cenários monumentais e efeitos psicodélicos confundíveis com uma viagem de ácido; definitivamente não é prazeroso correr e saltar por estes espaços. Tanto nos ambientes tridimensionais quanto nos espaços 2.5D, a exploração das poucas bifurcações que aparecem no caminho não proporcionam muitos ganhos além de “mensagens colecionáveis” para àqueles que buscam completar todos “segredos” do jogo.
Prós
- Direção de arte espetacular
- Ausência de Hud aprimora a contemplação dos cenários
- Proposta original e experiência única
- Trilha musical cativante
- A fase da moto é divertida, essa sim
Contras
- Sem localização de idioma para o Brasil
- Personagens pouco carismáticos e narrativa desinteressante
- Combate e navegação repetitivas
- Fluxo terrível com interrupções frequentes
El Shaddai: Ascension of the Metatron não é um jogo divertido para se jogar, tanto por seu simplório e repetitivo combate quanto por sua entediante navegação, mas é muito esbelto para se apreciar (quando o jogo permite). É fácil imaginar o porquê do jogo ter se tornado um cult, notavelmente indo na contramão da indústria, e o porquê dele ser referência quando falamos de vídeo games como representação artística; difícil é querer jogá-lo por muito tempo.