Análise | El Shaddai: Ascension of the Metatron

Análise | El Shaddai: Ascension of the Metatron

Não é todo dia que nos deparamos com o port de um jogo lançado há mais de 10 anos para a sétima, e agora antepassada, geração de consoles.

El Shaddai: Ascension of the Metatron foi originalmente lançado para PlayStation 3 e Xbox 360 em 2011, sendo desenvolvido e publicado pela Ignition Games, enquanto o port de PC que é objeto desta análise foi feito pela crim Co., Ltd.

Com lançamento na Steam marcado para 2 de Setembro de 2021, o jogo será comercializado pelo preço localizado de R$ 75,49 e conta com desconto de 19% (R$ 61,14) válido até 8 de Setembro de 2021.

Com isso em mente, não seria justo fazer uma análise anacrônica que não leva em consideração o contexto da indústria no período de seu lançamento original. Pois bem..

O que El Shaddai: Ascension of the Metatron oferece?

Trata-se de um hack n slash com câmera fixa em terceira pessoa que, em determinadas ocasiões, se alterna para um side scroller de plataformas.

A oferta principal é proporcionar batalhas simples e curtas, visuais artisticamente esbeltos e uma história épica com toques de narrativa bíblica. Isto porque seu protagonista é baseado em uma das figuras mais enigmáticas do antigo testamento: Enoque.

Enoque em ilustração de 1728.
Enoque em ilustração de 1728.

O filho de Caim chegou a protagonizar escritos apócrifos que narram experiências no Céu depois de um suposto arrebatamento, então, por que não protagonizar um jogo de vídeo game?

Assim, ele aparece em El Shaddai: Ascension of the Metatron como um humano (branco, loiro e de olhos azuis) e que, por algum motivo, veste calça jeans e uma peculiar armadura divina. Esta tal armadura faz parte de uma mecânica interessante no game que, inicialmente desprovido de huds, serve como um medidor de vida para o personagem: à medida que ele sofre dano, peças da armadura se quebram até que Enoque a perde por completo e “morre”.

Análise | El Shaddai: Ascension of the Metatron
Capítulo 5: The Tragedy of Baraqel

“Morre” entre aspas, porque sempre é possível revivê-lo pressionando repetidamente os botões do controle em um pequeno espaço de tempo. Assim, sempre é possível recomeçar rapidamente após ser derrotado em batalhas. Sendo que, mortes subsequentes exigirão maior frequência de apertos de botões em espaços de tempos cada vez menores.

O processo de se reviver pode ser aliviado com um modo easy ou intensificado com o modo hard ou o extra que são liberados após o termino do game, que pode tornar algo em torno de 7 horas “se você for bom“. E a duração do game não é nenhum spoiler, já que o narrador da história de Enoque, Lucifel, quebra a quarta parede em determinado diálogo para avisar o tempo necessário para finalizar o jogo.

Aliás, os diálogos do jogo são frequentes e frustrantes. É impossível navegar por alguns momentos pelos belos e diversos cenários sem ser sonoramente interrompido por diálogos que não somam à narrativa – que também não é lá grandes coisas.

Análise | El Shaddai: Ascension of the Metatron
Capítulo 2: The Tower

Com licenças poéticas de lado, El Shaddai: Ascension of the Metatron é sobre um sujeito em busca de d̶e̶r̶r̶o̶t̶a̶r̶ purificar anjos caídos que se alojaram em uma torre. Toda essa jornada passa por cenários abstratos que são verdadeiras exposições artísticas exuberantes. Nota-se um primor na direção de arte, mesmo em um pobre level design, que é visualmente recompensante após monótonos combates e diálogos dispensáveis.

Seus personagens pouco carismáticos não justificam a quebra do silêncio necessário para abstrair o apelo visual da obra. Uma experiência análoga a caminhar por um extenso museu repleto de obras de arte onde um guia importuno lhe acompanha o tempo todo e não para de falar, não deixando-o apreciar a beleza à sua volta.

Análise | El Shaddai: Ascension of the Metatron
O inquieto Lucifel, à esquerda

Sobre o sistema de batalha, dá para entender que a proposta do jogo foi mantê-la simples: você basicamente ataca com um botão, pula com outro botão e defende com um terceiro, conseguindo se esquivar ao combinar dois botões de acordo com sua arma. São três armas disponíveis que variam principalmente em alcance, contundência e capacidade defensiva/evasiva. A forma de alterná-las é obtendo através de inimigos em combate ou através de orbs coloridos que surgem pelo cenário.

Segmento de navegação 2.5D no jogo.
Segmento de navegação 2.5D no jogo.

Não há sistema de progressão ou desbloqueio de habilidades, todos recursos são inevitavelmente adquiridos conforme o jogador avança, sendo constantemente interrompido por mensagens que informam o jogador sobre suas novas habilidades. Soma-se isto às constantes interrupções por cutscenes, diálogos e combates repetitivos contra pouquíssimas variações de inimigos.

Forma hominídea de um dos anjos caídos no jogo
Forma humanoide de um dos anjos caídos no jogo

A dinâmica e o fluxo do jogo são um completo caos. Embora seja esteticamente agradável contemplar formas geométricas, cores exuberantes, cenários monumentais e efeitos psicodélicos confundíveis com uma viagem de ácido; definitivamente não é prazeroso correr e saltar por estes espaços. Tanto nos ambientes tridimensionais quanto nos espaços 2.5D, a exploração das poucas bifurcações que aparecem no caminho não proporcionam muitos ganhos além de “mensagens colecionáveis” para àqueles que buscam completar todos “segredos” do jogo.

Prós
  • Direção de arte espetacular
  • Ausência de Hud aprimora a contemplação dos cenários
  • Proposta original e experiência única
  • Trilha musical cativante
  • A fase da moto é divertida, essa sim

Contras
  • Sem localização de idioma para o Brasil
  • Personagens pouco carismáticos e narrativa desinteressante
  • Combate e navegação repetitivas
  • Fluxo terrível com interrupções frequentes

El Shaddai: Ascension of the Metatron não é um jogo divertido para se jogar, tanto por seu simplório e repetitivo combate quanto por sua entediante navegação, mas é muito esbelto para se apreciar (quando o jogo permite). É fácil imaginar o porquê do jogo ter se tornado um cult, notavelmente indo na contramão da indústria, e o porquê dele ser referência quando falamos de vídeo games como representação artística; difícil é querer jogá-lo por muito tempo.

Fabits
Fabits

Estou aqui para trazer notícias, curiosidades, rumores, matérias interessantes e desinteressantes. Eventuais opiniões expressadas acima são minhas e não necessariamente representam ideais do Clube do Vídeo Game.