Você provavelmente conhece o gênero de jogos beat 'em up, popularmente cunhado como jogos de brigas de rua, como Double Dragon, Final Fight, Streets of Rage e outros.
Mais de três décadas após o auge do gênero que entrou em declínio com a quinta geração de consoles, existe um grande desafio de game design em reviver este formato para a atual geração. Mesmo com alguns bons títulos recentes em mente, como River City Girls, Castle Crashers e Scott Pilgrim vs. The World, há uma carência de títulos para se jogar de forma não-casual, que exija mais tempo e dedicação do que apenas se movimentar para frente, apertar um ou dois botões para desferir socos e voadoras, derrotar chefões e ver os créditos finais em poucas horas.
Mesmo Streets of Rage 4, repleto de qualidades e bem recebido por diversos tipos de jogadores, falha em oferecer alguma “rejogabilidade” que não seja o desbloqueio de novos personagens ou realizações de desafios. E tudo bem.
Clique aqui para conferir nossa análise da 1ª DLC de Streets of Rage 4.
No fim do dia, é o que a maioria de nós espera de um beat 'em up: um jogo pra jogar algumas horinhas, preferencialmente de forma descontraída com amigos, e se divertir bastante.
Tunche oferece isso e mais, muito mais. Especialmente se você tiver mais que algumas poucas horinhas disponíveis.
Qual é a desse Tunche então?
Desenvolvido pelo proeminente estúdio peruano LEAP Game Studios, Tunche pega diversos elementos de jogos roguelike e pincela um lindo visual desenhado a mão para entregar uma experiência única.
Você escolhe entre cinco personagens bem carismáticos para jogar com até três amigos em coop local, partindo em uma épica aventura para restabelecer a paz na Floresta Amazônica.
Neste caminho você encontra algumas criaturas do nosso imaginário indígena e também alguns solícitos personagens para te auxiliar na jornada, passando por alguns contos folclóricos comuns entre o Peru e o Brasil.
O jogo funciona consideravelmente distinto de outros beat 'em ups ou hack n' slashes onde você anda linearmente por algumas fases, derrota alguns grupos de inimigos e alguns chefões.
Aqui, para progredir pelas 4 fases do jogo, você deve passar por algumas telas onde inimigos surgem em formato de ondas. Ao fim de cada tela, o jogador recebe uma recompensa previamente escolhida entre algumas opções oferecidas ao fim da tela anterior. Depois de determinado número de telas concluídas, em cada fase, você enfrenta um chefão que é uma versão corrompida de uma entidade folclórica.
As recompensas variam entre moedas, pontos de experiência, núcleos e essências; todas necessárias para uma série de melhorias indispensáveis aos menos experientes no jogo. Por conta do permadeath, ou seja, a necessidade de recomeçar todo o trajeto depois de ser derrotado em combate, as melhorias podem evitar a frustração da morte quando devidamente selecionadas.
Há novos ataques desbloqueáveis com pontos de experiência, novas táticas, recursos de recuperação de hp/mp e aumento permanente de atributos. Há também os núcleos, que concedem efeitos adicionais como proteções, cura, dano elemental adicional e podem ser aprimorados através de essências.
Se você já jogou Hades, é meio caminho para entender a proposta de Tunche: é um jogo difícil onde seu principal obstáculo é a frustração com a derrota, e sua melhor recompensa é a superação através da evolução e da aprendizagem.
O combate. Ah, o combate..
Algo para enaltecer tanto quanto o descrito até aqui é seu combate. Cada personagem possui ataques de curta distância, ataques de longa distância que consomem mana, esquiva, salto, poderes especiais e a possibilidade de projetar inimigos ao ar.
Além dos combos que combinam os dois principais botões de ataque, o jogador pode efetuar uma série de ataques aéreos: utilizável em inimigos que voam ou naqueles projetáveis.
Há ainda um sistema de pontuação, em cada tela, que recompensa o jogador de acordo com sua nota, variando de “D” até “SS”. O jogador pontua cada vez mais enquanto não é atingido, alterando entre golpes de curta e longa distância, no chão e no ar.
Existe uma notável diferença entre os personagens no que diz respeito ao dano, o alcance e à velocidade de cada tipo de ataque. Embora não esteja descrito explicitamente, você pode trocar de personagem em cada início de run e testar as diferenças.
Escolha o que mais gostar e divirta-se. Eu garanto que você vai!
Prós
- Cooperativo local entre até 4 jogadores
- Esbelto design com visual cartunesco e animações bem fluídas
- Ambientação na Floresta Amazônica aquece nosso coração latino, com direito a criaturas da nossa mitologia
- Personagens carismáticos, com habilidades e histórias distintas, adicionam ainda mais ao fator replay do jogo
- Localização em PT/BR
Contras
- Ausência de outros modos de jogo e seleção de dificuldade pode afastar jogadores casuais
Conclusão
Embora a proposta do jogo tenha sido arriscada ao mirar na interseção de interesses entre fãs de beat 'em up e roguelike, dá pra dizer que as dosagens foram acertadas. Longe do tédio inerente ao primeiro e próximo da dinâmica oferecida no segundo, Tunche é a fusão perfeita entre estes dois gêneros.
Além de ser indispensável na escassa biblioteca de quem gosta de jogos para jogar entre quatro amigos local, ele é obrigatório para quem quer que manifeste apoio à comunidade latina no cenário de desenvolvimento de jogos indie.
Tunche foi lançado hoje (2) para Nintendo Switch, consoles PlayStation, consoles Xbox, e PC (Steam).
O Clube do Video Game agradece a assessoria de Jesús Fabre que, gentilmente, nos cedeu o código de Tunche para review.