Como Pokémon foi criado? Entenda tudo sobre o processo

Como Pokémon foi criado? Entenda tudo sobre o processo

Se você não viveu em uma caverna nos últimos anos, provavelmente você conhece a série Pokémon, seja pelos games ou pela série de televisão.  No entanto, você já se perguntou como Pokémon foi criado?

Antes de Pokémon e um pouco da Game Freak

Como Pokémon foi criado? Entenda tudo sobre o processo
Satoshi Tajiri idealizou Pokémon inspirado em suas memórias de infância (Reprodução)

A ideia do que veio a se tornar o Pokémon foi concebida pelo game designer Satoshi Tajiri, sendo que este é o nome do protagonista “Ash” no desenho animado lá pelo Japão. Quando criança, Tajiri gostava de capturar insetos e pequenas criaturas em lagos e campos ao redor da sua cidade, e ficava imaginando eles lutando entre si.

Já durante o ensino médio, abriram uma loja com fliperamas no bairro onde ele morava, vindo daí a paixão pelos videogames. Na faculdade, Tajiri resolveu cursar engenharia elétrica, mas acabou tendo a oportunidade de publicar uma revista chamada Game Freak no ano de 1983, aos 17 anos. O nome, por sua vez, é uma homenagem ao filme “Freaks” de 1932.

Se tornando um respeitado jornalista da área de games, Tajiri foi contactado pelo futuro ilustrador Ken Sugimori, que na época estava sonhando com uma oportunidade em sua área, surgindo daí uma amizade entre ambos.

A revista encerrou suas atividades no final da década de 80, mas neste meio tempo, a dupla criava informalmente games aleatórios com uma equipe de entusiastas que levava o nome da revista: Game Freak. Como ninguém sabia compor músicas, Tajiri entrou em contato com um conhecido: Junichi Masuda, que futuramente seria conhecido como um dos musicistas de Pokémon.

O primeiro jogo que eles criaram foi “Quinty“, concluído em 1989 de modo informal. No entanto, a Namco gostou do título deles e resolveu publicá-los oficialmente, e Tajiri então oficializou a Game Freak no dia 26 de abril de 1989. Eles eram oficialmente uma desenvolvedora de games, e já nessa época o Tajiri pensava em como “colocar em prática” suas aventuras da infância.

Gameboy surge e o sonho “Pokémon” vira realidade

Em 1989, a Nintendo lançou o Gameboy, e este tinha uma porta de entrada para um cabo que permitia conectar dois jogadores para troca de informações.

Só que neste período “embrionário”, Tajiri ainda não sabia qual tipo de jogo seria o Pokémon, mas ele acabou optando por um RPG quando ele se lembrou que, enquanto jogava Dragon Quest II para o Nintendinho, havia um item raro chamado “Mysterious Hat”, que Tajiri queria encontrar, mas não conseguiu, enquanto Ken Sugimori, que também estava jogando, encontrou dois. Se houvesse a possibilidade de conectar um game com outro, Sugimori poderia transferir um deles para Tajiri.

A equipe começou a trabalhar em duas versões do game, sendo que em cada uma haveria Pokémons exclusivos, e também tendo diferentes graus de raridade entre elas. Ou seja, há monstros que apareceriam muito mais frequentemente em um do que em outro e vice-versa.

Para a captura dos monstros, Tajiri se inspirou em um Tokusatsu chamado “Ultraseven”, em que o protagonista possui várias cápsulas contendo monstros que saem delas e ficam em seu tamanho original.  Daí veio o nome protótipo do game: Capsule Monsters, que seria abreviado para Capumon. No entanto, ao registrarem este nome, eles viram que estava indisponível, e aí eles trocaram para Pocket Monsters, ou Pokémon.

Pokémon era para sair em 1990, mas atrasou CINCO anos

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Reprodução

O contrato com a Nintendo foi assinado no início de 1990, e a previsão era que o jogo ficasse pronto em outubro daquele ano. A equipe já estava formada e as ideias estavam “a todo o vapor”, só que a Game Freak não tinha experiência em trabalhar com RPGs e o projeto, que eles já imaginavam que seria desafiador, foi muito mais difícil do que eles imaginavam.

Com um prazo tão curto, a ideia original era só trocar os monstros, só que a medida que o desenvolvimento progredia, a equipe ia percebendo que ele deveria ser muito maior do que planejaram inicialmente, e não daria tempo de entregá-lo até outubro.

Eles conseguiram negociar com a Nintendo o adiamento do projeto sucessivas vezes, e o game ficou praticamente parado até ano de 1994, já que a Game Freak também estava trabalhando em outros títulos, incluindo o clássico para Mega Drive, Pulseman.

Quem deu a ideia de separar os jogos por cores foi ninguém menos que Shigeru Miyamoto, o “guru' da Nintendo considerado pai de Mario e Zelda. Segundo Tajiri, cerca de 7 cores foram pensadas, mas no final ficou decidido que seria Verde e Vermelho. Por alguma razão, o verde foi trocado por azul ao chegar no ocidente.

Após muitos desafios e sucessivos adiamentos, a Game Freak finalmente concluiu Pokémon Verde e Pokémon Vermelho em dezembro de 1995, e o planejamento era que o jogo fosse lançado no dia 21 daquele mês. No entanto, houve um atraso por conta das matérias-primas que produziam cartuchos estavam em falta, e a Nintendo só conseguiu publicá-lo oficialmente no dia 27 de fevereiro de 1996.

Baixa expectativa de todos, menos da GameFreak

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O mangá e o anime de Pokémon “turbinaram” o sucesso do game. Foto: Reprodução

Os jogos de Pokémon saíram bem tardiamente no bom e velho Gameboy, que já era considerado “ultrapassado” em meados dos anos 90. A Nintendo não tinha grandes expectativas com o game, e a própria mídia de videogames não deu muita atenção aos títulos.

No entanto, a GameFreak apostava no sucesso de seu projeto, e fechou parceria com a CoroCoro Comic para lançarem um mangá baseado no Pokémon, e em agosto daquele ano veio a proposta de um anime baseado nos “monstros de bolso”. A Nintendo foi cautelosa, temendo investir em um produto que não renderia retorno e que ele afetaria negativamente a popularidade do game, mas acabou apostando na ideia.

Ao longo dos meses, as vendas de Pokémon Verde e Vermelho foram aumentando consideravelmente, assim como o mangá e o anime também iam adquirindo cada vez mais popularidade entre as crianças e adolescentes japoneses através da propaganda “boca-a-boca”. Contrariando todas as expectativas, em menos de um ano, o Pokémon havia se tornado um fenômeno em todos os seguimentos de atuação.

Pokémon chega ao ocidente

Com o grande sucesso no Japão, nada mais natural do que apostar no mercado ocidental também. O presidente da Nintendo dos Estados Unidos na época era o asiático Minoru Arakawa, e vendo a popularidade dos monstros de bolso no Japão, ele quis levar a série pros Estados Unidos.

Na época, a Game Freak estava crescendo consideravelmente graças ao sucesso de Pokémon, e eles estavam desenvolvendo uma nova versão dos jogos, dessa vez chamada de Azul, como uma forma de testar os novos funcionários. Assim, eles poderiam corrigir erros e também melhorar os visuais, e esta versão chegou a ser lançada no Japão de modo especial.

Já no ocidente, ficou decidido que eles lançariam essa versão “melhorada” como a oficial, e Pokémon Azul e Vermelho chegaram por aqui em 1998 “turbinados” quando comparados ao lançamento original de 1996.

Os dois jogos venderam 200 mil cópias em apenas um mês, e o anime virou a maior audiência dentre os programas infantis que passavam na TV dos Estados Unidos. Pokémon acabou se tornando uma “febre” no ocidente tanto quanto no oriente, e isso se refletiu no Brasil também.

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O anime de Pokémon também foi um fenômeno no mundo inteiro. Foto: Reprodução

Graças ao fenômeno Pokémon, a Nintendo teve um crescimento de lucros no ano de 1999 na casa dos 250% quando comparado ao mesmo período em 1998. A popularidade do jogo também “turbinou” as vendas do Gameboy, e chegou em um bom momento para a Big N, que havia perdido a soberania do mercado de consoles, dominado na época pelo primeiro PlayStation.

A 4KIDS, responsável por trazer o anime de Pokémon para o ocidente, teve um crescimento de 3.000% com a chegada dos monstros de bolso, se tornando a companhia americana que cresceu mais rápido em toda a história dos Estados Unidos, segundo a revista “Fortune” de setembro de 2000.

Victor Miller
Victor Miller

Jornalista, Victor Miller ganhou popularidade na internet por ser o dono do Planeta Sonic, um dos maiores canais do YouTube no Brasil sobre o mascote da SEGA. Trabalha há mais de dez anos escrevendo sobre games para diversos canais importantes do país.