Conheça a literatura gamer (Parte 1)

Conheça a literatura gamer (Parte 1)

Muita gente, ao ver do que se tratava o texto, deve ter revirado os olhos para a palavra “literatura”, logo pensando nos clássicos de Machado de Assis, Álvares de Azevedo e José de Alencar que a gente é obrigado a ler na escola, nas aulas de Literatura. Mesmo que a leitura seja algo mais leve como Harry Potter ou intensa como os livros de Game of Thrones, é verdade que muita gente não tem paciência sentar e ler um livro; acha chato, desinteressante, prefere ir jogar um jogo de videogame. Porém, dá para relacionar literatura com videogame sim. Estou aqui hoje para provar isso. 

Esse jogo daria um livro!

Quem nunca jogou um game com uma narrativa complexa e personagens interessantes, cheios de conflitos e pensou “esse jogo poderia ser um livro ou filme”? Antes os videogames eram mais simples,  mas hoje, as narrativas que servem de pano de fundo estão se tornando tão cheia de detalhes que podem ser exploradas em diversos âmbitos. Por causa disso, muitas produtoras de videogame têm investido em livros.

Você já ouviu falar sobre a chamada “literatura gamer”? Segundo Aline Akemi Nagata, na tese “Esse jogo daria um ótimo livro: uma análise da literatura gamer e da constituição de práticas de leitura em narrativas transmidiáticas”, ultimamente, houve um aumento crescente de publicações com essa temática. Elas podem estar em formatos de contos, mangás, graphic novels ou romances. 

Akemi afirma que boa parte delas não reproduz a história do game. Na realidade, acaba explorando o tema  por meio de outros personagens, criando uma história paralela à dos jogos, ou ainda fazendo a ponte entre a história de um game e outro de uma mesma franquia. 

Narrativa transmídia

Isso faz parte da chamada narrativa transmídia, o fluxo de narrativas de uma mídia a outra. É a utilização de várias plataformas midiáticas que convergem para contar uma história, sendo que cada novo texto contribui de forma distinta para o enredo. Porém, cada uma coexiste enquanto mídia independente. É importante que todos os formatos funcionem de forma autônoma, mas, é claro, sem perder a relação entre si. A transmídia traz para o consumidor a sensação de que há inúmeras possibilidades a serem exploradas de uma determinada marca ou produto. 

Um exemplo de sucesso de narrativa transmídia é Star Wars. Desde seu lançamento, lá em 1977, a série ganhou séries de TV, livros, histórias em quadrinhos, animações, games e mais. 

Outra franquia famosíssima que se espalhou por várias mídias é Harry Potter. A saga do garoto que descobre ser um bruxo começou nos livros e depois, foi crescendo a ponto de ganhar adaptações no cinema, inúmeros jogos, entre outras coisas. 

O caso de Assassin´s Creed

Um caso de narrativa transmídia que começou como game e ganhou o mundo midiático é Assassin´s Creed, que tem uma narrativa tão grandiosa que não consegue ficar apenas nos jogos: a franquia ganhou várias obras completamentares em diferentes mídias, entre elas, os livros – tema do vídeo de hoje.  

Escritos por Oliver Bowden, os livros, lançados no Reino Unido pela Penguin Books e publicados no Brasil pela editora Galera Record, contam uma história parecida com a dos jogos, mas trazem alguns aspectos adicionais. São, ao todo, sete volumes: Renascença, Irmandade, A Cruzada Secreta, Revelações, Renegado, Bandeira Negra e Unity. 

Segundo Aline Akemi, Assassin´s Creed tem a literatura gamer mais bem-sucedida em termos de vendas no Brasil; os primeiros livros chegaram a ficar, durante algum tempo, na lista dos mais vendidos, publicada na Revista Veja. 

No sentido literário, a franquia ganhou também uma edição especial de Barba Negra – O diário perdido, escrito por Christie Golden, além de duas graphic novels, escritas por Corbeyran e desenhadas por Djallali Defali, publicados pela Galera Record. Fora isso, também tiveram três HQs, A Queda e A Corrente, escritas por Cameron Stewart e Karl Kerschl e Brâman, escrita por Brendan Fletcher e Karl Kerschl.

The Witcher

Já os games da série The Witcher fizeram o caminho inverso: são inspirados em uma série de livros já existente, expandindo e complementando aquele universo através de jogos, que aproveitam os mesmos personagens, cenários e acontecimentos retratados nas obras de Sapkowski. Ao todo, são cinco romances, que formam o arco intitulado A Saga do Bruxo, mas, definitivamente, foram os games que ajudaram a espalhar mais ainda a palavra de Geralt de Rívia pelo mundo. 

No próximo texto, vamos falar sobre o crescimento da literatura gamer no Brasil e seu o público. Fique ligado no Clube do Videogame para não perder essa.  

Letícia Höfke
Letícia Höfke

Sou jornalista, escritora e completamente apaixonada por tudo que envolve o universo geek. Twitter e Instagram: @leticiahofke