Quem gostava de jogar videogame nos anos 90, certamente já deve ter ouvido falar no nome da Tectoy. A empresa brasileira se consolidou no mercado trazendo para o público diferentes consoles e jogos, o que justifica a sua presença na memória de tantos brasileiros fãs de videogame. Mas você conhece a história dessa empresa? Hoje vamos contar para vocês a história da Tectoy, que hoje é referência quando se fala em entretenimento eletrônico no Brasil.
A criação da Tectoy
A Tectoy nasceu em setembro de 1987 em uma época em que o país enfrentava uma economia turbulenta e empresas nacionais ainda estavam aprendendo a trabalhar com componentes eletrônicos mais sofisticados. Em um mercado de brinquedos dominado pela gigante Estrela, o empresário Daniel Dazcal viu a oportunidade de aproveitar a sua expertise na área de tecnologia para trazer ao Brasil algo que ainda estava engatinhando por aqui: os brinquedos eletrônicos.
Em 1988 chegava ao mercado o primeiro produto trazido pela Tectoy em uma parceria com a japonesa Sega. A Pistola Zillion funcionava com tecnologia de raios infravermelhos e foi um sucesso entre as crianças, principalmente depois que o marketing da Tectoy conseguiu um acordo para exibir na Rede Globo o anime Zillion, produção japonesa feita em uma parceria entre a Sega e Tatsunoko Production que tinha como intuito justamente divulgar o produto.
A Pistola Zillion marcou o início de uma grande parceria, que foi muito importante para o ramo dos videogames no Brasil. Apesar da Gradiente ter sido bem-sucedida com as vendas do Atari 2600 através da Polivox, foi a Tectoy que ficou responsável por trazer os grandes nomes da Sega para o país.
No mesmo ano era lançado também outro grande sucesso da empresa, o famoso Pense Bem, um brinquedo parecido com um computador que realizava atividades básicas, como um jogo de “siga o mestre”, e continha livros temáticos com perguntas de temas escolares como Matemática, História, Geografia e Inglês. O quiz eletrônico educativo era uma versão licenciada do Smart Start da VTech e foi muito bem aceito pelo público brasileiro.
A chegada do Master System no Brasil
Em um primeiro momento, a Sega ficou com um pé atrás ao confiar a distribuição do Master System à Tectoy. Nos Estados Unidos, o console estava sendo distribuído por outra empresa do ramo de brinquedos, a famosa fabricante de triciclos Tonka. Mas a abordagem da Tonka não agradou a japonesa, que perdeu muito do público norte-americano para o NES.
Foi só em 1989 que a Tectoy finalmente conseguiu trazer para o país o Master System, que no fim foi o seu maior sucesso de vendas. Segundo uma matéria publicada no jornal Estadão em setembro de 1989, a propaganda criada pela Fox Propaganda e produzida pela Evadim Publicidade custou US$ 160 mil e foi investido um total de US$ 2 milhões em veiculação comercial.
O investimento pesado em marketing e publicidade fez com que a empresa superasse a sua estimativa de faturamento, conseguindo 66 milhões de dólares ao invés de 40 milhões, e metade desse valor era referente às vendas do Master System. Isso também fez com que o Brasil acabasse se tornando o maior mercado do Master System no mundo.
Além do console, a Tectoy também trouxe para o Brasil o serviço telefônico Hot Line que ajudava os jogadores com dicas pra progredir nos jogos e o clube de sócios Master Clube, além de dois espaços dedicados aos videogames na TV: o Master Dicas que era exibido nos intervalos da Sessão Aventura e o Vídeo Game Show, um quadro do Vídeo Show apresentado por Miguel Falabella e Cissa Guimarães que tinha dicas, anúncios de lançamentos e até sorteios!
O Mega Drive entra em campo
Não demorou para o sucessor do Master System chegar ao Brasil. Em dezembro de 1990, o público brasileiro recebia o Mega Drive, o popular console da Sega que depois viria a rivalizar com o Super Nintendo lançado no país pela Playtronic. Assim como o Master System, o Mega Drive também era fabricado em Manaus e teve uma divulgação ampla, junto com um catálogo de jogos pra ninguém botar defeito.
Além do Mega Drive, em 1991 a Tectoy também trouxe para o Brasil o Game Gear, que se tornou o primeiro console portátil fabricado por aqui.
Quando a Nintendo chegou ao Brasil em 1993, pela Playtronic, a Sega já havia se estabelecido por aqui graças à Tectoy, o que fez dela uma concorrente de peso no país.
Foco no público brasileiro
Um dos principais diferenciais da Tectoy era o seu grande foco no público brasileiro. Além de jogos traduzidos e alguns ports, a empresa também fazia adaptações para deixar os títulos mais de acordo com a realidade do povo brasileiro. A maioria dessas adaptações veio para o Master System, já que ele contava com um hardware mais simplificado e fácil de modificar.
Entre alguns títulos notáveis do Master System no Brasil tivemos Mônica no Castelo do Dragão, que era uma adaptação de Wonder Boy in Monster Land, Chapolim x Drácula: Um duelo assustador, que foi adaptado de Ghost House, e até mesmo um jogo totalmente original do Castelo Rá-Tim-Bum.
Foi também graças à Tectoy que os brasileiros que não compreendiam inglês puderam acompanhar as histórias de RPGs incríveis como a trilogia Phantasy Star e Shining in the Darkness do Mega Drive.
Momento de crise
Em 1992 a Tectoy começou a fazer exportações regulares de produtos no Mercosul e em 1998 ela já e dedicava totalmente ao seu negócio principal que eram os videogames, sempre atuando como principal representante da Sega no Brasil.
Porém, entre 1997 e 2001 uma crise financeira iniciada nos países do sudeste asiático afetou negativamente diversos países com economia emergente, sendo um deles o Brasil. O governo aumentou as taxas de juros em 43% e o consumo e os investimentos foram ficando cada vez mais escassos.
Devido ao alto índice de inadimplência por parte de compradores, lojas como Mappin e Mesbla fecharam as portas, deixando a Tectoy não só com menos distribuidores, mas também com dívidas. Havia também o Clube Tectoy, que vendia diretamente para os consumidores e também acabou sendo afetado pelo problema de falta de pagamentos.
As dificuldades fizeram com que a Tectoy entrasse em Concordata preventiva, negociando as suas dívidas e fazendo reestruturações em todos os projetos. O provedor CompuServe Brasil, ainda em fase inicial, foi descontinuado e a fábrica mudou para instalações menores, realizando um grande corte na equipe de empregados.
A crise afetou também o lançamento do Dreamcast que veio sem nenhum jogo incluso e sem um modem para reduzir o seu custo. Lançado quase simultaneamente com os Estados Unidos, o Dreamcast teve cerca de 20 mil unidades vendidas no país, o que ajudou a Tectoy a driblar a crise. Em outubro de 2000 o processo de concordata foi encerrado e a empresa entrou em uma nova fase.
Jogos do SBT
Depois de se recuperar, a empresa passou a investir em produtos eletrônicos mais variados e rentáveis como aparelhos de Karaokê, DVD players e Micro System. Nesse período a marca também passou por um rebranding que refletia a sua nova fase.
Apesar da atenção à nova linha de produtos, os jogos não foram deixados de lado! A companhia fechou uma parceria com o canal SBT para lançar produtos baseados nos seus programas Show do Milhão e Qual É a Música? para PC e Mega Drive. Você certamente viu o Super Mega Drive com Show do Milhão por aí nas lojas, ou quem sabe até teve um.
Ainda em 2001 a Sega havia anunciado que ia sair do mercado de consoles e se dedicar exclusivamente ao desenvolvimento de jogos e isso também implicava em mudanças na sua parceria com a Tectoy.
Aposta em novas empreitadas
Em 2006 foram lançadas oficialmente a Tectoy Digital e a Tectoy Mobile, com foco no desenvolvimento e publicação de games. A linha mobile da Tectoy veio com uma parceria com a Level Up! Games, hoje famosa pela publicação de muitos jogos online no Brasil, entretanto a parceria não vingou e foi desfeita em 2010 com a venda da participação da Tectoy.
Em maio de 2007, ao completar 20 anos, a companhia entrou em uma nova fase, passando por mais um rebranding e apostando em novidades no mercado de jogos eletrônicos. Com o novo logotipo veio também a nova grafia do nome, que passou de “Tec Toy” para “Tectoy”.
Um dos lançamentos mais notáveis dessa época foi o Zeebo, produzido em parceria com a Qualcomm e lançado em 2009. O Zeebo chegou ao mercado com a proposta de ser o primeiro console de mesa que não vendia jogos em mídia física. Os jogos seriam todos adquiridos e baixados direto pelo próprio console que teria uma rede própria chamada ZeeboNet 3G. Entretanto o projeto teve vendas muito abaixo do esperado e foi encerrado em 2011, com a sua rede desativada.
Nesse meio tempo, a Tectoy também vendeu algumas Tvs de Tubo de 14 Polegadas com jogos na memória, entretanto o lançamento veio um pouco tardio, já que as Tvs de LCD e Plasma já haviam dominado o mercado.
A fabricação de set-top boxes para a empresa sul-coreana Humax estava apresentando um bom faturamento e, diante disso, a empresa decidiu disponibilizar a sua fábrica para fabricação de produtos de terceiros. Porém, a parceria com a Humax durou pouco, sendo encerrada em 2013 e, depois de tentar leiloar as suas ações, a empresa partiu para uma linha de DVDs licenciados Disney e Mattel.
Outra aposta foi no mercado de baby care, com produtos licenciados da Disney e Fisher Price. E esse mercado trouxe resultados muito positivos para a empresa, sendo fundamental para sua nova fase.
Aposta na nostalgia
Agora Tectoy está focada na nostalgia, trazendo de volta para o mercado os jogos e consoles que fizeram parte da vida dos gamers nas décadas de 1980 e 1990. O primeiro lançamento foi o Atari Flashback 7 em 2017, uma nova versão do Atari 2600, que vinha com 101 jogos na memória.
Já em 2017 foi lançado o novo Mega Drive com entrada para jogos em Cartão SD, além de versões portáteis do Master System e Atari. Depois em 2018 foi lançado o controle de 6 botões para o Mega Drive, compatível com o 32X e o Master System.
Os produtos não se resumem apenas a consoles e acessórios, no final de 2018 também foi anunciada uma linha de produtos licenciados em comemoração aos 30 anos de parceria entre a Sega e Tectoy e, ao que tudo indica, ainda há mais por vir.
TecToy Tá ON
Em 2020, a TecToy entrou em uma nova fase, com foco comercial no lançamento de novas linhas e produtos eletrônicos dos mais variados tipos. Diversas ações com influenciadores, dos mais variados segmentos, deram força para alavancar seus produtos. Entre eles, destaca-se até a inusitada participação da artista Joelma.
Este periodo também foi marcado pela abertura de diversas lojas físicas pelo Brasil. Possivelmente por conta do período pré-pandêmico, muitas dessas lojas foram fechadas e, no presente momento, apenas o estabelecimento de Manaus está operante.
Também nesta data, a TecToy entrou de cabeça em um empreendimento B2B voltado para oferecer soluções em automação para negócios e empreendimentos em locais físicos. Veja exemplos de um projeto oferecido abaixo.
TecToy BACK TO THE GAME
Durante o Big Festival 2023, representantes da TecToy anunciaram o interesse da marca em “retornar para o jogo”, sob o slogan BACK TO THE GAME. Em palestra no palco principal do evento, eles citaram o interesse da TecToy em se tornar uma publicadora de jogos.
Poucas informações foram reveladasa sobre este novo empreendimento, mas há indicios de que a empresa estaria negociando direitos de publicação de jogos desenvolvidos por estúdios terceiros – e até mesmo jogos desenvolvidos internamente. Outra revelação diz respeito ao investimento direto na formação de novos desenvolvedores, o que indicaria que a TecToy pode estar desempenhando papel fundamental no fomento ao mercado do desenvolvimento de jogos, desde a base.
Esperamos que tenha gostado dessa linha do tempo, resumida, sobre a trajetória desta marca que sempre se fez presente no imaginário gamer brasileiro. Atualizaremos o artigo assim que outras novidades pertinentes venham a público.