A primeira edição do BBB chegou no ano de 2002 e a Rede Globo, querendo popularizar seu novo programa, decidiu investir em um jogo de computador inspirado no clássico The Sims. Para isso, eles fecharam parceria com os curitibanos da Continuum Entertainment, que na época estava em alta por conta do jogo de estratégia Outlive, para criarem um jogo com os brothers chamado Big Brother Brasil The Game. Considerado um abandonware, você pode baixá-lo gratuitamente e legalmente através deste link.
Os membros da Continuum Entertainment tiveram apenas duas semanas para produzir o game do BBB, tempo extremamente curto mesmo para os padrões da época, pois o game tinha que estar no mercado antes da final do primeiro programa. Por isso, eles pegaram a fórmula do The Sims, e aproveitaram muitos gráficos e sistemas de outro jogo desenvolvido simultaneamente, o No Limite, baseado em outro reality show da Rede Globo que fez grande sucesso no início dos anos 2000.
“A sorte é que ambos os jogos tinham uma mecânica semelhante baseados em reality shows, com votações para eliminação, logo boa parte da engine de um jogo pode ser usado no outro”, conta Alexandre Vrubel, que na época era gerente da Continuum, em uma entrevista ao START da Uol.
Além do prazo curto, a equipe era pequena, e Vrubel comenta que eles chegaram a trabalhar 14 horas por dia para finalizarem o projeto a tempo para se assemelhar ao The Sims. Nos últimos dias eles nem dormiram, e eles queriam ter tido mais tempo para desenvolver o game como realmente almejavam.
“Tiramos cochilos na frente do computador, nos revezando, mas conseguimos entregar o produto no prazo, sem bugs, e com razoável grau de diversão. Ficamos orgulhosos com o produto, principalmente devido às restrições que tivemos que superar para transformá-lo em realidade”, diz Vrubel na entrevista.
A escolha pelo estilo “The Sims” se deu porque o BBB é baseado em relacionamentos interpessoais, só que o jogo do reality show acabou ficando muito mais simples por ser focado na mecânica do reality, incluindo os padrões, convencer os outros participantes a não mandar o jogador para o paredão, e tentar atrair a simpatia do público.
O game é considerado muito simples, mesmo para sua época, se distanciando do The Sims, e aliado ao curtíssimo tempo de desenvolvimento, Alexandre Vrubel acredita que eles entregaram um produto de qualidade dentro de tantas limitações.
“Acredito que fizemos um bom jogo, apesar de simples e voltado para um público casual. Se tivéssemos mais tempo de desenvolvimento, o jogo poderia ter ficado mais interessante, com mais elemento, o que aconteceu, por exemplo, no jogo do ‘No Limite', que foi lançado logo em seguida. Hoje, imagino que um jogo estilo BBB poderia ser multijogador, com o computador ou smartphone simulando a votação do público. É interessante essa mecânica, em que você tem que ‘convencer' o computador de que você merece continuar no jogo e não os seus adversários. Existe um desafio interessante de inteligência artificial, para fazer o computador simular o público, que, no fundo, é quem decide quem ‘ganha', o jogo”, finaliza Vrubel.
Como funciona o game do BBB ao estilo The Sims?
O vídeo acima deixa evidente o quanto o jogo é parecido com The Sims
O jogador deverá escolher um dentre 12 participantes fictícios e controlá-lo em uma casa. O objetivo é fazer com que seu personagem chegue à final do programa e fature o prêmio de 500 mil reais.
Sendo uma experiência mais focada que o The Sims, você deve interagir com os outros personagens, tentar evitar ser indicado ao paredão pelos outros participantes também e, caso seja, o público irá julgar seu comportamento na casa por meio de um sistema de inteligência artificial.
Assim como o primeiro The Sims, o título é visto em visão isométrica e o gameplay é aponte e clique para que você interaja com o cenário, seja outros personagens ou os elementos. Curiosamente, o título é realmente fiel ao comportamento dos participantes do BBB, e você pode dançar, paquerar, beijar e até mesmo xingar.
Isso tudo aumentará ou diminuirá três parâmetros: os níveis de características do seu personagens, níveis de relacionamento, e o nível de popularidade com o público. O BBB para PC possui um ciclo de cinco semanas, e cada dia equivale a três minutos da vida real. Há também minigames que funcionam como a Prova do Líder.
O game chegou a ganhar algumas análises e foi exibido em revistas da época, incluindo uma review bem crítica da EGM Brasil. Mesmo com a alta popularidade do programa na época, o jogo não foi um sucesso tão grande e acabou caindo quase no esquecimento, diferente do The Sims que rendeu uma série até hoje.
Em 2005 foi lançado o jogo para dispositivos móveis “Meu Big Brother“, que desta vez contava com versões virtuais dos participantes reais, incluindo Jean Wyllys e a Grazi Massafera, sendo uma espécie de “Tamagotchi” deles, e não uma versão de The Sims. Este já foi desenvolvido por um outro estúdio, e foi pioneiro em disponibilizar notícias do programa de TV em tempo real, um Portal de Voz, e um Big Quiz, em uma época em que os smartphones “engatinhavam” no mercado.
Mais recentemente, também foi lançado o Big Game BBB 22 para mobile, também publicado pela Globo, e que também não tem nada a ver com The Sims.
O grande sucesso da Continuum Entertainment
Outlive é um jogo de estratégia que usa visão isométrica como o The Sims
O jogo de maior projeção deles foi o já citado Outlive, que é um jogo de estratégia em tempo real baseado em missões, onde o jogador controla forças militares humanas ou robóticas e tenta eliminar as forças opositoras. Na época, se tornou notório por ter sido um dos poucos games do Brasil a serem publicados por um grande publisher nos Estados Unidos, a Take-Two Interactive.
A história conta que com o aumento da atividade terrosita em todo o mundo, e a rápida diminuição dos recursos naturais do planeta, as nações mais poderosas do mundo precisaram tomar medidas radicais. No dia 17 de abril de 2035 foi o Conselho Mundial, que via a sobrevivência da humanidade com a oferta interplanetária de recursos extraídos de outros corpos celestes.
Eles enviaram um grande grupo de sondas para todos os planetas do Sistema Solar e, após uma busca prolongada, eles descobriram que o objeto mais rico é o Titã. Daí que eles iniciam o Projeto Outlive, que consiste na construção de três naves espaciais que levariam os primeiros colonos até lá. No entanto, a atmostera de Titã era tóxica para os humanos e o clima não tão amigável.
Dois grupos surgiram para resolver o problema: um liderado pelo Dr. Joseph Taylor, com criaturas geneticamente modificadas para fazer o trabalho inicial, e outro liderado pela Dra. Mary-Anne Harley, que combinava robótica com inteligência artificial sofisticada. Devido à escassez de tempo, o Conselho Mundial deu aos dois times um ano terrestre para criar protótipos funcionais dos respectivos projetos.
À medida que o projeto Outlive avançava, o Dr.Taylor foi transferido após uma tentativa de assassinato, levando ao abandono da base onde seu trabalho estava armazenado. Enquanto as forças da LA controlavam a área. Maxwell e sua equipe tiveram que enfrentar os Abomináveis para garantir a segurança do projeto e, após uma série de eventos tumultuados, incluindo a descoberta de um complô e a destruição de mísseis.
Nesse contexto, eles finalmente lançaram as naves do Outlive, apenas para serem confrontados pela ameaça iminente das forças do Exército da Liberdade, que logo se revelaram aliadas inesperadas na luta contra a corrupção do Conselho Mundial e os interesses sinistros da Mechatronics. A jogabilidade é em visão isométrica, como o The Sims, mas trata-se de um game totalmente diferente.
Por trás do BBB
O Big Brother Brasil é a versão brasileira do reality show “Big Brother”, que originalmente é dos Países Baixos. A primeira edição ocorreu em janeiro de 2002, tendo uma segunda edição ainda naquele mesmo ano. A partir da terceira, passou a ser anual, e a especulação por trás disso é para que a numeração do BBB coincida com o ano em questão.
Já o nome tem origem no livro 1984 de George Orwell, no qual o Big Brother é o ditador que tudo vê de uma versão distópica da Oceania, vigiando toda a população através das chamadas teletelas. Ele instruiu a função de “Grande Irmão” ao instruir psicologicamente os participantes. No livro em si, o líder nada mais corresponde do que uma fração que tem o poder inserida na sociedade dentro da casa, sendo mais uma semelhança ao programa.
Além disso, a própria edição do programa, não valendo só para o BBB, mas sim para qualquer edição do Big Brother ao redor do mundo, também se assemelha a um conceito visto no livro 1984 no papel de Miniver. Afinal, a “verdade” transmitida para as grandes massas pode ser manipulada, criando heróis e vilões na tela dependendo das falas e comportamentos de seus participantes. Ou seja, o livro de George Orwell propõe que uma mesma situação possa ser vista como boa ou ruim, dependendo de como aquele que o mostra o faz.
