Ministra Ana Moser afirma que esportes eletrônicos não são esportes e que o ministério não investirá nesse segmento
Nesta semana, a ministra Ana Moser afirmou não considerar esports como “esportes de verdade” e que, por isso, não investirá nesse segmento. Ela, que é ex-jogadora de vôlei, comparou o treino de atletas de esportes eletrônicos ao da cantora Ivete Sangalo e declarou ainda que as competições fazem parte da indústria do entretenimento, assim como a música.
“A meu ver, o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então, você se diverte jogando videogame, você se divertiu. “Ah, mas o pessoal treina para fazer”. Treina, assim como o artista. Eu falei esses dias, assim como a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta da música. Ela é simplesmente uma artista que trabalha com entretenimento. O jogo eletrônico não é imprevisível. Ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, ela não é aberta, como o esporte”, disse Ana Moser em entrevista ao UOL.
Dessa forma, os atletas de esportes eletrônicos não terão acesso a Bolsa Atleta, Lei de Incentivo ao Esporte e recursos públicos de Esporte de forma geral.
Em sua polêmica declaração, a ministra lembrou ainda que a ONG “Atletas pelo Brasil” atuou para que a Lei Geral do Esporte não tivesse um conceito de esporte amplo a ponto de poder incluir esports.
“A questão do esporte eletrônico a nível federal ainda não é uma realidade. Não tenho essa intenção [de investir nisso]. No meu entendimento, não é esporte. A gente lutou, no ano passado, eu na minha vida pregressa, a frente da Atletas pelo Brasil, a gente fez uma ação muito forte junto ao Legislativo para o texto da Lei Geral [do esporte] não ser aberto o suficiente para poder ter o encaixe dos esportes eletrônicos. O texto está lá protegendo o esporte raiz. Na definição de esporte, tinha sido dado uma abertura que poderia incluir esporte eletrônico, e a gente fechou essa definição para não correr esse risco. Lógico, risco sempre acontece, e é um trabalho constante”, disse ela.
A nova Lei Geral do Esporte (PL 1.153/2019), do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), está em tramitação no Senado. O texto chegou a ser aprovado em junho no Senado, com relatoria de Leila Barros (PDT-DF), e em julho pela Câmara. Contudo, sofreu alterações e precisará ser apreciado novamente pelos senadores.
Estrelas dos esports criticam fala de Ana Moser
Atletas e pessoas ligadas aos esports criticaram a declaração feita pela ministra. Bruno “Nobru” Goes, profissional de Free Fire e streamer, veio a público para exaltar todo o esforço dos atletas de esports.
“Senhora ministra, eu queria falar em nome de todos os atletas de eSports, que são muitos aliás, que eSports é um esporte sim! Acho que fazer a comparação que você fez é ignorar todo processo que a pessoa tem de preparo físico e mental para disputar uma competição. A senhora me desculpe, mas eu acho que a diferença está exatamente na sua imprevisibilidade e no seu desconhecimento deste nosso mercado gigantesco, que movimenta milhões e atrai milhares de pessoas”, disse o atleta. “Tenho certeza que os jogos eletrônicos apareceram para dar novas esperanças para a criançada, mostrar que a gente consegue vencer na vida, assim como eu venci. Hoje em dia consigo sustentar a minha família e tenho uma empresa com 200 funcionários. Então, senhora ministra, é lamentável saber que a senhora não considera eSports um esporte e que você não pretende investir”.
Jaime Pádua, cofundador da FÚRIA, também se pronunciou sobre o assunto. Ele reconhece que, de fato, os esports são diferentes do esportes “tradicionais”, mas por motivos diversos dos apontados pela ministra. “É triste ver uma argumentação atrasada que deprecia o valor competitivo e de performance dos eSports em relação a esportes tradicionais. O mundo mudou, e espero que a Ministra faça o que ela sempre fez no seu esporte e estude, treine e evolua, pois foi isso que a levou à glória e a nos encher de orgulho no vôlei”, disse.
Paulo Neto, jogador profissional de FIFA do Atlanta United (EUA) disse que claramente, a ministra não procurou se informar sobre o cenário, porque “se (ela) soubesse um pouco dele não falaria uma bobagem como essa. Mas fico feliz que nosso cenário até hoje não precisou de ajuda de políticos e tenho certeza que continuaremos crescendo independentemente deles”.