Nesta semana, a ministra Ana Moser afirmou não considerar esports como “esportes de verdade” e que, por isso, não investirá nesse segmento. A declaração repercutiu tanto na comunidade que muitos astros brasileiros estão se pronunciando, como o influenciador e empresário Bruno “Nobru”, o streamer Alexandre “Gaules” e o jogador de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) Gabriel “FalleN”.
Entenda a polêmica
Tudo começou quando a ministra, ex-jogadora de vôlei, em entrevista ao UOL, comparou o treino de atletas de esportes eletrônicos ao da cantora Ivete Sangalo, declarando também que as competições fazem parte da indústria do entretenimento, assim como a música.
“A meu ver, o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então, você se diverte jogando videogame, você se divertiu. “Ah, mas o pessoal treina para fazer”. Treina, assim como o artista. Eu falei esses dias, assim como a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta da música. Ela é simplesmente uma artista que trabalha com entretenimento. O jogo eletrônico não é imprevisível. Ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, ela não é aberta, como o esporte”, disse ela.
Pronunciamento de Nobru
Nobru, ex-jogador profissional e cofundado do clube de esports Fluxo, postou alguns stories criticando a declaração de Ana Moser.
“Senhora ministra, eu queria falar em nome de todos os atletas de esports, que são muitos, aliás. Esport é um esporte, sim!”, começou ele antes de dar seu posicionamento de que fazer a comparação que ela fez com a Ivete Sangalo é ignorar todo o processo que o atleta tem de preparo físico e mental para disputar uma competição. Segundo Nobru, os games também são entretenimento, é só para mostrar que as pessoas já estão buscando outras coisas além do que os jogos tradicionais podem oferecer.
“A senhora me desculpe, mas eu acho que a diferença está exatamente no seu desconhecimento desse nosso mercado gigantesco, que movimenta milhões e atrai milhares de pessoas”, disse.
Ele ainda citou a rotina de um jogador de esports para compará-la com a de um atleta de esporte tradicional. De acordo com Nobru, para você se tornar um atleta, “não é somente sentar a bunda no sofá, na cama, na cadeira, pegar um celular ou um computador e começar a jogar”. É preciso além disso: a pessoa necessita de estrutura, como, por exemplo, uma gaming house – assim como os jogadores de futebol ficam alojados em um centro de treinamento.
Além dessa estrutura, os atletas de esports tem que ter horários de treinos, cuidar da alimentação, ter consultas com fisioterapeutas e psicólogos.
“Eu não sei o que mais precisa para a gente mostrar que os esports são esportes e que precisam de uma preparação absurda para você se tornar atleta”, disse ele.
“Considerando nosso país, onde os atletas de luta, surfe, qualquer outro segmento, têm que vender doce na rua, fazer várias paradas para treinar e correr atrás dos seus sonhos, eu tenho certeza que os jogos eletrônicos nasceram para dar mais esperança para a criança, para realmente mostrar que existem outros caminhos que a gente consegue vencer na vida, assim como eu venci. Eu, garoto de comunidade, com 17 anos, da zona sul de São Paulo, que não tinha nem celular, venci na vida graças aos jogos eletrônicos. Hoje em dia, eu consigo sustentar minha família, ter uma vida financeiramente estável e ter uma empresa com mais de 200 funcionários, que também dependem do sucesso desta empresa de esports para sustentar a família deles”, finalizou.
Gaules minimiza as declarações de Ana Moser
Gaules, streamer com o canal de esports mais assistido do mundo, afirmou que “a parte boa disso é que a gente nunca precisou e nem vai precisar dessa galera para ficar dizendo se é esporte ou não é. A gente nunca precisou desse pessoal, nem nunca vai precisar”.
Ele já havia ironizado a fala da ministra em uma publicação no Twitter para divulgar sua live. “A live do entretenimento está ON. E, assim como Ivete, hoje me preparei para dar show!”, escreveu Gaules.
FalleN prega que haja diálogo com o Poder Público
FalleN, capitão da Imperial, bicampeão mundial e o principal nome do CS:GO brasileiro afirmou que, cedo ou tarde, a comunidade vai precisar ter algumas regulações para o esporte eletrônico no país. São coisas que já estão acontecendo em outros países. Para ele, a grande verdade é que as pessoas que estão na condição de poder e cuidam de pastas como esta precisam tentar entender o Brasil como um todo.
“Muito se fala sobre esse governo que chegou ao poder mais uma vez, sobre tentar ver todos os lados da moeda. É uma coisa que é verdade. Tem que ser olhado mesmo. Se alguém entra em uma pasta com a noção dela sem pesquisar, sem levar em consideração o que outras pessoas pensam, sem levar em consideração coisas que não conhecem, elas correm o risco de fazerem coisas que não fazem sentido para uma parcela da galera”, disse.
Para ele, deve haver diálogo com as autoridades públicas, pois é importante ter ações reguladas, que abram oportunidades para os esports.