CENSURA: as antigas regras de conteúdo da Nintendo (Parte 2)

CENSURA: as antigas regras de conteúdo da Nintendo (Parte 2)

No artigo anterior vimos como surgiu e como funcionava a antiga política de conteúdo da Nintendo da América, que na pratica implicavam em censura durante o processo de localização de ports de arcades e versões ocidentais de jogos dos seus consoles.

E conferimos as 5 primeiras regras dessa politica com vários exemplos de suas aplicações. Por isso vamos seguir de onde paramos, com a sexta regra da politica da Nintendo sobre censura de conteúdo, uma regra que, contudo não teve muita aplicação…

 

Regra número 6: A Nintendo não aprovará jogos que representem força excessiva em jogos esportivos além do que é inerente a esportes de contato reais.

Essa regra está na nota oficial da Nintendo, mas o número de exemplos que encontrei de aplicação dela é zero, isso talvez porque os jogos esportivos em sua maioria não vinham do Japão, eram desenvolvidos nos próprios Estados Unidos e provavelmente já eram feitos com as políticas da Nintendo em mente. 

Se você souber de algum exemplo de aplicação dessa regra não hesite contar nos comentários! Vamos passar à…

 

Regra número 7: (e essa é longa!) A Nintendo não aceitará jogos que reflitam estereótipos étnicos, raciais, religiosos, nacionais ou sexuais, Isso inclui símbolos relacionados a qualquer grupo racial, religioso, nacional ou étnico, tais como cruzes, pentagramas, Deus, Deuses (deuses mitológicos romanos são aceitáveis), Satã, Buda ou Inferno.

Sim, a Nintendo da América disse tudo isso junto numa regra só na sua nota, e para procurar alguns dos vários casos de aplicação dessa regra vamos seguir o exemplo de Jack, o estripador, e dividir ela em partes: começando pelos estereótipos raciais.

Final Fight é um jogo que, pelo número de vezes que o citei na primeira parte desse artigo, já deu para você perceber que foi bastante alterado em sua versão ocidental.

Do mesmo jeito que ele teve sprites de personagens femininos modificados para versões masculinas, em alguns casos sprites de bandidos negros tiveram seu tom de pele clareado na versão ocidental, na intenção de evitar ser criticado por incorrer no estereotipo racista do negro bandido. Lembrando que no caso de Final Fight as alterações não foram feitas pela Nintendo, e sim pela própria Capcom com as censuras da Nintendo em mente!

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Outro exemplo vem da segunda geração de Pokemon, quando alteraram a cor do Pokemon Jynx de preto para roxo, devido ao fato de que o rosto do Pokemon lembra muito as maquiagens blackface, que atores brancos usavam para representar personagens negros de maneira caricata e frequentemente racista no século XIX e começo do século XX nos Estados Unidos.

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Exemplo de maquiagem blackface

 

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Algo muito parecido aconteceu com o personagem Sr. Popo em versões mais recentes dos animes de Dragon Ball.

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Quanto aos estereótipos sexuais ou de gênero, acho redundante que a Nintendo da América os tenha mencionado nessa regra pois as regras numero 1 e 2 já tratam bastante deles, talvez essa menção repetitiva mostre como o tema era realmente um tabu!

Já nos estereótipos religiosos os exemplos são fartos e vão muito além de meros estereótipos, simples referências ou alusões a religiões e seus símbolos eram censurados.

Você pode reparar que no próprio texto da regra há uma lista inteira de referências que devem ser censuradas nos jogos: cruzes, pentagramas, Deus, deuses, Satã, Buda, Inferno etc. Apenas deuses greco-romanos podiam ser mencionados. 

As cruzes, por exemplo, eram removidas exaustivamente em vários games, não importa se aparecessem em igrejas, na capa de Bíblias, em joias ou tumbas, elas tinham que ser removidas antes do lançamento americano de qualquer jogo para um console da Nintendo.

Como resultado as cruzes que o personagem jogador podia atirar no Drácula em jogos da franquia Castlevania foram trocadas por bumerangues. Já games que tinham igrejas e cemitérios em seus cenários ficaram com muitos lugares vazios porque as cruzes tinham sido removidas no processo de localização.

Um exemplo é o jogo Ducktales do NES, em que as cruzes nas lápides foram substituídas por inscrições com a sigla RIP (rest in peace ou “ descanse em paz”).

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Já no primeiríssimo Final Fantasy, também do Nintendinho, o meio de reviver membros do grupo era levá-los a um clérigo numa igreja.

Na localização americana a aparência das igrejas foi alterada para suprimir o caráter religioso do prédio, que teve o nome mudado para “clínica”, enquanto o sprite do clérigo dentro da igreja foi alterado para parecer menos religioso (menos católico, mais especificamente). Até mesmo o texto dito durante a ressurreição dos personagens foi alterado para retirar a palavra alma de modo que a coisa toda parecesse menos espiritual e religiosa.

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E, é claro, há também os nomes de Deus, Deuses, Diabo e Inferno, que eram censurados em geral, um grande exemplo disso é ActRaiser, um jogo de plataforma de Super Nintendo que ao mesmo tempo era uma espécie de simulador de Deus: no jogo você literalmente controla Deus, e o vilão final é o diabo, mas os nomes Deus e Satã desses personagens foram trocados para “The Master” e “Tanzra” na localização ocidental.

E a censura ia além, o nome “diabo” era censurado em qualquer lugar, sendo trocado por “imp” ou “demon” nos casos de inimigos chifrudos de jogos diversos.

Até mesmo o Yellow Devil, boss da franquia Mega Man que não parece em nada com representações típicas do diabo, teve seu nome alterado para “Rock Monster”, e o pior é que ele nem parece ser de pedra também!

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Do mesmo modo o personagem “Hell Hound” em Secret of Mana foi renomeado para Heck Hound, só pra tirar o inferno do seu nome, (já que em inglês Hell significa inferno). 

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O exagero foi tanto que houve um caso que beira o esdrúxulo: na localização de Final Fantasy VI a magia “holy” (santo ou sagrado em inglês) foi nomeada pra “pearl” ainda antes do jogo ser submetido à aprovação da Nintendo da América. era algo que provavelmente não seria censurado, mas a Squaresoft temeu que o texto do game voltasse pra revisão, o que, num jogo de RPG, daria muito trabalho, cerca de 50 ou 60 horas segundo um dos profissionais envolvidos na localização do jogo disse numa entrevista!

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Quanto aos estereótipos étnicos há um exemplo em Sunset Riders, mais especificamente na sexta fase do jogo, que na versão de arcade é cheia de inimigos indígenas, trocados por bandidos genéricos na versão de Snes para evitar colocar o jogador no comando dum massacre contra indígenas e evitar o estereótipo do “índio inimigo”, comum na temática de “velho oeste”. Porém o Chief Wigwam, boss da fase, foi mantido, mas ao derrotá-lo o personagem poupa sua vida ao saber que ele estava apenas seguindo ordens. 

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Já quanto aos estereótipos nacionais só encontrei um provável exemplo, ele aconteceu na localização do jogo Punch Out. Nesse game o lutador que representa a Rússia se chama Vodka Drunkenski, um trocadilho difícil de traduzir, seria algo como “Vodca Pingunsinsky”… Enfim, ainda bem que eu não sou tradutor de jogos.

O fato é que na localização americana o nome do personagem ficou Soda Popinski. Esse exemplo poderia ser uma tentativa de evitar o estereótipo nacional do russo bêbado de vodca.

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Mas na verdade eu acho bem mais provável que a regra que censurou o nome desse personagem seja a que proibia menções a álcool e outras drogas, mas eu ainda não falei dela! Seguindo a ordem da nota onde a Nintendo publicou as regras da sua política de conteúdo, vamos à…

 

Regra número 8: A Nintendo não aceitará jogos que usem qualquer forma de profanação ou obscenidade ou incorporem linguagem ou gestos que poderiam ser ofensivos aos padrões ou gostos do público predominante.

Ao falar em público predominante a Nintendo da America nos permite inferir que ela realmente tentava se adequar ao gosto médio do conservador americano da época.

Na mesma nota, antes de listar as regras, a empresa afirma que embora esteja ciente de que “[…] definições de visões sociais, culturais e políticas sejam altamente subjetivas […]” continuará a “[…] fornecer aos consumidores entretenimento que reflita as normas aceitáveis da sociedade.” e -por tudo que vimos até aqui- podemos concluir que se tratam das normas mais conservadores da complexa sociedade americana da época.

Mas, voltando à regra número 8, ela basicamente proíbe coisas que possam ser lidas como obscenidade ou desrespeito. Curiosamente não há muitos exemplos de aplicação dessa regra, talvez isso ocorra porque a cultura japonesa emprega um polimento hierárquico na linguagem da sua comunicação cotidiana, não deixando muito espaço para xingamento e desrespeito. 

Por isso temos um exemplo que não vem do Japão, mas dos Estados Unidos mesmo, num caso em que a censura foi feita no primeiro processo de garantia de qualidade, já que não houve localização porque o jogo era americano: era um jogo baseado no filme “Uma cilada para Roger Rabbit”.

Nesse filme há um personagem chamado “Smart Ass”, uma mistura da palavra esperto com a palavra traseiro, numa expressão que pode ser traduzida como “espertinho”. No jogo do filme para o Nintendinho o nome desse personagem foi trocado para “smarty”, com o mesmo significado, mas removendo qualquer menção à traseiro.

Quanto à localização de jogos japoneses na verdade há um exemplo dessa regra, mas que originalmente não envolvia um gesto obsceno: no Super Mario RPG na pose de vitória do Bowser ele ergue o braço em riste, algo que no Japão é simplesmente uma expressão de triunfo, mas que pode ser visto como gesto obsceno em outras partes do mundo, assim na localização ocidental a pose foi modificada

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Mas, embora inocente nesse caso, o Bowser é culpado num exemplo de aplicação da…

 

Regra número 9: A Nintendo não aprovará jogos que incorporem ou encorajem o uso de drogas ilegais, materiais de fumo e álcool (a Nintendo não permite que propagandas de cerveja ou cigarro sejam colocadas em arenas, estádios, ou alambrados em jogos de esporte) .

Pois é, nada de drogas ou menção a elas em jogos da Nintendo da América, por isso o pobre Bowser não pode mais beber champanhe: no versão original de Super Mario Kart, quando terminava uma competição em primeiro, o velho Bowser era visto no topo do podium entornado sua comemorativa garrafa de champanhe, depois da localização americana o coitado pode apenas segurar a garrafa.

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Pela menção clara, no próprio texto da regra, sobre anúncios de bebida e cigarro dá pra antecipar que a Nintendo realmente não aceitava qualquer menção a essas drogas.

Por isso uma aplicação muito comum dessa regra eram bares que apareciam em jogos, a Nintendo da América em geral transformava eles em “cafés”, mesmo que fossem só parte do cenário. Isso aconteceu em jogos como Earthbound

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e de modo notável no jogo Tecmo’s Secret of the Stars: há nesse game uma cidade chamada Drunkards, “drunk” em inglês quer dizer bêbado, e nesse lugar quase tudo faz referência ao álcool, com ruas cheias de bêbados, bares e barris de cerveja.

Na localização ocidental o nome do lugar foi mudado para “Sleepers” implicando uma cidade de dorminhocos sonolentos que precisavam de café para se manterem acordados durante o dia; os bares, mais uma vez, foram modificados para se tornarem cafés.

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Já em alguns jogos da primeira geração de Pokémonum homem bêbado bloqueia o caminho do personagem, na versão americana ele foi trocado por alguém que gosta muito de café.

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Quanto a drogas ilegais, um caso curioso de aplicação dessa regra aconteceu em Final Fantasy Legend II do Gameboy.

Numa das cidades do jogo o enredo envolve um grupo de traficantes de ópio, a localização americana trocou em todo o texto dessa parte do game a palavra ópio por banana! Sim, no Final Fantasy Legend II americano você tem que lidar com traficantes de banana!

E você aí achando que aquela vitamina de banana que você toma de tarde não tinha nada demais!

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Vou deixar aqui o vídeo de um dos presidentes da Nintendo, o saudoso Satoru Iwata, contemplando bananas diante do público da E3 de 2012.

O vídeo não tem nada a ver com o caso, e eu vou passar para a próxima e última regra antes que eu comece a fazer piadas sobre overdose com o Donkey Kong.

Regra número 10: A Nintendo não aprovará jogos que incluam mensagens políticas subliminares ou manifestem declarações políticas. 

Num sentido mais amplo muita coisa pode ser entendida como política, mas talvez aqui a Nintendo estivesse se referindo a menções diretas a ideologias ou tendências políticas bem específicas.

De qualquer modo parece que a política americana não era um dos grandes interesses dos desenvolvedores de games japoneses da época.

Por isso os exemplos de aplicação dessa regra não são muitos e em geral envolvem menções a extremismos políticos, sobretudo o nazismo. Isso é compreensível na medida em que, depois de derrotados na segunda guerra mundial, a indústria cultural fez dos nazistas vilões típicos de obras diversas. 

O enredo do jogo de NES Bionic Commando envolvia um grupo de neonazistas e seu plano de ressuscitar Hitler e dominar o mundo.

Mas isso apenas no Japão, na localização americana tudo foi alterado: os nazistas agora eram chamados de “the Badds”, Hitler ficou “Master D.” e, embora a aparência de Hitler não tenha sido mudada, todas as suásticas foram trocadas por águias alemãs.

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Talvez tenha influído aqui também um tanto da regra número 7, especificamente quanto  a estereótipos de grupos nacionais ou étnicos, visto que preconceitos desse tipo poderiam ser evocados na medida em que fazem parte da essência do nazismo. 

Outro jogo com inimigos nazistas que caiu nessa regra foi Wolfenstein 3D, um jogo de tiro em primeira pessoa para PC’s em que o personagem jogador avança por um castelo cheio de nazistas até enfrentar o próprio Hitler como boss.

No port de Super Nintendo desse game todas as referências nazistas foram cuidadosamente modificadas, as suásticas foram sumariamente removidas e a aparência do Hitler foi alterada pra um vilão genérico

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Um exemplo de aplicação dessa regra que não envolve nazismo aconteceu em Earthbound, jogo que pelo tanto que citei ao longo das regras dá pra perceber que também foi bastante alterado em sua localização americana!

Embora não seja nazismo, outro extremismo foi censurado aqui: numa das vilas do jogo há cultistas insanos cujas vestes foram ligeiramente modificadas para que não lembrassem os supremacistas racistas da Ku Klux Klan.

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Outra cidade no game era chamada de “Threek”, esse nome foi mudado na localização americana para “Threed”, isso pode parecer sem razão, mas lido em inglês, Threek pode significar literalmente three k, três k’s, KKK, a sigla da Ku Klux Klan.

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E com essa se completam as 10 regras que guiaram as censuras que a Nintendo da América impunham a qualquer jogo pra qualquer dos seus consoles. Existem tantos outros exemplos de aplicação dessas regras que citar a maioria deles implicaria em uma longa série de artigos como esse. Se você conhece algum dos exemplos que não citei conta o caso aí nos comentários! 

Contudo o tempo não parou para a Nintendo e sua politica de censura: do fim da década de 80 ao início dos anos 90 a empresa teve um domínio inquestionável no mercado americano; e com a Nintendo da América se tornando, nesse período, um sinônimo de videogame, suas censuras se tornaram um legado da época e um pequeno capítulo na história dos games.

Mas nos anos 90 o quase monopólio da Nintendo foi desafiado pela Sega, que opôs ao Super Nintendo o seu Gênesis (o nosso querido Mega Drive), iniciando a famosa guerra dos consoles 16-bits. Foi então que as rígidas restrições de conteúdo da Nintendo se tornaram um inconveniente tanto no sentido da imagem da empresa como dos seus lucros.

A guerra dos consoles também foi travada no campo da publicidade, as propagandas da Sega e da Nintendo nos Estados Unidos se tornaram agressivas, e a Sega tratou de taxar a Nintendo pejorativamente como infantil em suas propagandas, tentando mostrar o Gênesis e seus jogos como algo mais “hardcore”, atraindo a atenção de adolescentes que não queriam parecer crianças e crianças que queriam parecer adolescentes. 

E o exemplo do Mortal Kombat flopado do Super Nintendo contrasta bastante com os lucros obtidos pela versão sem censura do jogo no Mega Drive.

Enquanto isso a Sony estava preparando seu Playstation, que alavancaria a quinta geração de consoles e traria muitos games com temática mais adulta.

Cada vez mais gente se dava conta de que os videogames não eram essencialmente brinquedos infantis, mas sim uma mídia com produtos para idades, gostos e demandas diversas.

Na mesma época surgiu ainda o Conselho de Classificação de Softwares de Entretenimento, mais conhecido pela sigla em inglês ESRB.

Fundado e operado por por representantes da própria indústria de games, esse conselho atribui classificações de idade para os jogos e foi um esforço dessa indústria para evitar regulamentações governamentais mais pesadas.

Com os jogos tendo classificações etárias, as censuras da Nintendo pareciam fazer menos sentido na medida em que se um jogo não fosse apropriado para crianças, por exemplo, a ESRB indicaria ele para públicos mais maduros ao invés dele ter que sofrer censura. 

Por todos esses motivos essas censuras da Nintendo da América foram ficando obsoletas e hoje são vistas como caricatas.

A própria Nintendo sentiu necessidade de se mostrar capaz de ter games mais “hardcore” em seus consoles e muito da biblioteca do Nintendo 64 mostra isso.

Mas, apesar de ter revisto todas essas regras, a empresa nunca abandonou completamente a imagem de “familiarmente amigável” que já estava bastante sedimentada no público por conta das políticas de conteúdo que vimos juntos neste artigo.